Tributo a Nanni Moretti (cineasta italiano)

Meu primeiro contato com esse diretor foi na metade da década de 90 quando ainda trabalhava na locadora de meu pai. Por mais que estivesse vencendo preconceitos culturais, minha cabeça ainda não aceitava produções italianas. Anos depois, em uma madrugada sem sono, enquanto zapeava pela televisão lembrei daquela moto vespa e decidi parar para assitir aquele filme. "Caro Diário", de 1994, já possuía um tom confessional, mas ainda era impossível imaginar o que estaria por vir.
Lançado quatro anos depois, "Aprile", de alguma forma dava continuidade a história daquele cineasta, envolvido na produção de um filme às vésperas do nascimento de seu primeiro filho. Assim como Woody Allen, o fato de Nanni Moretti roterizar, produzir, dirigir e atuar dava ao filme uma enorme riqueza, em se tratando de uma nítida metalinguagem. Além de que o fato de ambos compartilharem algumas neuroses e dúvidas - ele produziria um documentário ou um musical? - também me chamou muito a atenção.

A consagração mundial veio com "O quarto do filho", que arrebatou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2001. A densidade e a sensibilidade que o diretor-protagonista apresenta diante da morte de seu primogênito é contundente e o retrato da força de vontade da família tentando superar a tragédia é praticamente real para quem já conhecia seus trabalhos anteriores. Histórias e personagens dos outros filmes passeiam pelos acontecimentos de maneira emocionante.

Sua última produção, tem novamente como pano de fundo a produção de uma película, só que desta vez, seria uma autobiografia desautorizada do ex-Primeiro Minsitro da Itália e Presidente do Milan (time de futebol), entre diversas outras organizações determinantes na cultura daquele país, Silvio Berlusconi. Em "O Crocodilo", de 2006, Moretti agora interpreta o próprio político corrupto que ele tenta desmascarar. E a metalinguagem tem seqüência durante o próprio processo de realização do filme que corre em paralelo ao fim do casamento do seu produtor.

Gostaria de destacar também que seu ponto forte é coragem para fazer o tão descriminado atualmente, cinema de autor, sem falar nas inúmeras autoreferências e conexões entre toda a sua obra que fazem com que esses quatro filmes possam ser vistos como apenas um, que conta aliás, a vida deste talentoso diretor.







Para ilustrar a seqüência da obra de Nanni Moretti, o pôster de "Caro Diário" (ao lado esquerdo) e a marca de sua própria distribuidora que lançou o polêmico "O Crocodilo" (acima), após o nascimento de seu filho.

Veja também este trecho de "Aprile", em que o diretor-ator faz um belo retrato do jornalismo atual da Itália e modo que as pessoas em geral se relacionam com a mídia. Arte pura!!!

Este texto é fruto da minha apreciação pessoal por este diretor, além de ser uma maneira que encontrei de deixar um comentário em português sobre sua obra, uma vez que sempre obtive poucos resultados nas buscas que fiz sobre ele. Cabe ressaltar também, que o cineasta lançou outros filmes que não foram lançados no Brasil antes dos comentados aqui. Suecesso e vida longa para Nanni Moretti!!!

Comentários

Anônimo disse…
No mínimo...envolvente tudo que vc escreve!

Beijos da admiradora!